Bancos, tecnologia e mudanças sociais: A transformação do setor bancário no mundo digital
- Darci de Borba
- 16 de jun. de 2023
- 6 min de leitura
Atualizado: 18 de jun. de 2024

O setor bancário passou por uma evolução incrível nas últimas décadas. Com o advento da tecnologia, desde a era dos cheques e balcões de atendimento, os bancos transitaram para um mundo onde os serviços digitais e a automação dominam. Além disso, o setor tem experimentado mudanças sociais profundas que forçaram as instituições a se reinventar. Este artigo examina como a tecnologia e as mudanças sociais têm moldado a indústria bancária e o que esperar no futuro.
1) O passado e o presente do setor bancário
Os bancos têm sido uma parte fundamental da sociedade por séculos. Tradicionalmente, eles funcionavam como intermediários financeiros, aceitando depósitos e fazendo empréstimos. No entanto, as últimas décadas presenciaram mudanças drásticas no setor bancário, impulsionadas principalmente pelo avanço tecnológico.
No passado, o serviço bancário era um processo demorado e muitas vezes frustrante. O acesso a dinheiro e crédito era restrito a horários de funcionamento e envolvia longas filas e muita burocracia (Bátiz-Lazo, 2018). Os cheques eram o meio dominante de pagamento, enquanto o crédito era limitado e muitas vezes caro.
No entanto, o advento da computação no final do século XX revolucionou o setor bancário. A automatização de muitas tarefas bancárias reduziu a dependência de funcionários humanos, permitindo aos bancos operar mais eficientemente. Além disso, os caixas eletrônicos tornaram o acesso a dinheiro mais conveniente, liberando os clientes do horário de funcionamento dos bancos (Bátiz-Lazo, 2018).
A era da internet trouxe outra revolução, permitindo a criação de bancos inteiramente digitais. Estes bancos, muitas vezes chamados de "neobancos", fornecem serviços bancários online sem ter uma presença física. Eles oferecem uma série de vantagens, incluindo conveniência, velocidade e custos operacionais mais baixos, o que muitas vezes se traduz em melhores taxas para os clientes (Gomber, Koch, & Siering, 2017).

A última década testemunhou o crescimento explosivo do mobile banking. Hoje, a maioria dos bancos oferece aplicativos que permitem aos clientes fazer transações, pagar contas, transferir dinheiro e até mesmo aplicar para crédito diretamente de seus smartphones. Isso transformou a maneira como interagimos com os bancos e tornou o acesso a serviços financeiros mais inclusivo (Shaikh & Karjaluoto, 2015).
2) A influência da tecnologia na indústria bancária
A tecnologia tem desempenhado um papel crítico na transformação do setor bancário, uma tendência que só deve se acelerar. Em particular, as tecnologias emergentes, como a inteligência artificial (IA), blockchain e criptomoedas, têm o potencial de remodelar o setor de maneiras sem precedentes (Arner, Barberis, & Buckle, 2020).
A IA já está sendo usada para melhorar a eficiência dos bancos e a experiência do cliente. Os chatbots baseados em IA, por exemplo, estão permitindo que os bancos ofereçam suporte ao cliente 24/7, reduzindo os tempos de espera e melhorando a satisfação do cliente (Huang & Rust, 2018). Da mesma forma, os algoritmos de IA estão sendo usados para detectar e prevenir fraudes, melhorando a segurança dos clientes e dos bancos (Guerra & Castelli, 2021).

O blockchain, a tecnologia por trás de criptomoedas como o Bitcoin, também tem implicações significativas para o setor bancário. O blockchain pode melhorar a transparência e a eficiência de transações financeiras, reduzindo a necessidade de intermediários e diminuindo o risco de fraude (Radziwill, 2018). Além disso, as criptomoedas estão desafiando os bancos a repensar completamente o conceito de dinheiro e como ele é transferido.
Enquanto essas tecnologias trazem oportunidades, elas também apresentam desafios. Por exemplo, a rápida evolução da tecnologia e a falta de regulamentação clara em torno de áreas como criptomoedas podem criar incertezas para os bancos. Além disso, a crescente dependência da tecnologia eleva o risco de ciberataques, exigindo dos bancos investimentos significativos em segurança cibernética (Guerra & Castelli, 2021).
3) Mudanças sociais e o setor bancário
As mudanças sociais também estão desempenhando um papel importante na evolução do setor bancário. À medida que a população mundial se torna mais diversificada, digitalizada e globalizada, os bancos são forçados a se adaptar.
Uma mudança significativa tem sido a ascensão dos millennials e da Gen Z, que cresceram com a tecnologia digital e agora estão se tornando a principal base de clientes dos bancos. Essas gerações esperam serviços bancários rápidos, convenientes e digitais. Eles são mais propensos a usar neobancos ou plataformas fintech e esperam uma experiência de usuário superior (Akram et. al, 2021).

Além disso, as mudanças econômicas, como o crescimento das economias em desenvolvimento, estão criando novas oportunidades e desafios para os bancos. Em muitos países em desenvolvimento, por exemplo, uma grande proporção da população ainda não tem acesso a serviços bancários, o que representa uma enorme oportunidade de crescimento. No entanto, isso também exige que os bancos inovem e desenvolvam produtos e serviços adequados a esses mercados (Demirgüç-Kunt, Klapper, Singer, Ansar, & Hess, 2018).
4) Desafios e oportunidades para o setor bancário
As mudanças tecnológicas e sociais que estão moldando a indústria bancária trazem tanto desafios quanto oportunidades.
Os bancos enfrentam desafios significativos na adaptação às novas tecnologias. As regulações em torno de tecnologias emergentes, como blockchain e criptomoedas, ainda estão se desenvolvendo e são muitas vezes incertas, o que pode dificultar a adoção dessas tecnologias (Arner, Barberis, & Buckle, 2020). Além disso, à medida que os bancos se tornam cada vez mais digitais, eles se tornam mais suscetíveis a ciberataques, exigindo investimentos significativos em segurança cibernética (Guerra & Castelli, 2021).
Do ponto de vista social, os bancos estão se adaptando a uma clientela cada vez mais diversa e globalizada. A ascensão dos millennials e da Gen Z exige uma reavaliação dos produtos e serviços bancários para atender às suas expectativas (Akram et. al, 2021). Além disso, à medida que mais pessoas em economias em desenvolvimento ganham acesso a serviços bancários, os bancos precisarão desenvolver novos produtos e serviços que atendam a essas populações (Demirgüç-Kunt et al., 2018).
Apesar desses desafios, há também muitas oportunidades. A adoção de novas tecnologias pode permitir que os bancos operem de maneira mais eficiente e ofereçam melhores serviços aos seus clientes. Além disso, o surgimento de novos mercados em economias em desenvolvimento representa uma oportunidade significativa de crescimento. A competição com as fintechs também pode impulsionar a inovação, levando a melhores produtos e serviços para os clientes.
5) Perspectivas Futuras
Olhando para o futuro, o setor bancário provavelmente continuará a ser moldado por avanços tecnológicos e mudanças sociais.
Do ponto de vista tecnológico, podemos esperar que a IA, blockchain e outras tecnologias emergentes desempenhem um papel cada vez mais importante. Os bancos que conseguirem adotar essas tecnologias de maneira eficaz terão uma vantagem competitiva significativa.
Socialmente, à medida que as novas gerações se tornam a principal base de clientes dos bancos, a demanda por serviços bancários digitais e personalizados provavelmente aumentará. Além disso, à medida que mais pessoas em economias em desenvolvimento ganham acesso a serviços bancários, veremos um crescimento contínuo do setor bancário nesses mercados.

Por fim, o setor bancário se encontra no olho do furacão de uma transformação sem precedentes. Velhos paradigmas estão sendo desafiados, os modelos de negócio estão evoluindo e as expectativas dos clientes estão se reformulando rapidamente. No cerne dessa tempestade está a evolução tecnológica e as rápidas mudanças sociais, duas forças que estão reconfigurando a paisagem bancária de maneiras imprevisíveis e excitantes.
No entanto, neste turbilhão de mudanças, também surgem oportunidades incríveis. Para os bancos que conseguem abraçar o ritmo frenético dessa transformação, adaptar-se rapidamente às novas realidades e se manterem na vanguarda da inovação, o futuro não apenas parece brilhante, mas também promissor.
Estes bancos irão não apenas sobreviver, mas florescer, posicionando-se não apenas como instituições financeiras, mas como líderes em tecnologia, inovação e inclusão social. Eles têm a chance de redefinir o que significa ser um banco, como servem aos seus clientes e como podem impactar positivamente a sociedade.
Mas a questão crucial que permanece é: os bancos tradicionais estão prontos para aceitar o desafio e se transformar, ou serão ultrapassados por novos participantes e fintechs mais ágeis e inovadoras? Afinal, a única constante é a mudança, e na nova era digital, aqueles que não conseguem se adaptar podem descobrir que o futuro não é tão brilhante quanto parece.
E, talvez a provocação mais intrigante seja: como você, seja como líder bancário, funcionário ou cliente, planeja se adaptar e prosperar nesta nova era? A resposta a essa pergunta pode muito bem definir o futuro do setor bancário - um futuro que todos nós temos um papel em moldar.
Referências:
Arner, D. W., Barberis, J., & Buckley, R. P. (2017). FinTech and RegTech in a Nutshell, and the Future in a Sandbox. CFA Institute Research Foundation.
Guerra, P., & Castelli, M. (2021). Machine learning applied to banking supervision a literature review. Risks, 9(7), 136.
Akram, U., Fülöp, M. T., Tiron-Tudor, A., Topor, D. I., & Căpușneanu, S. (2021). Impact of digitalization on customers’ well-being in the pandemic period: Challenges and opportunities for the retail industry. International Journal of Environmental Research and Public Health, 18(14), 7533.
Demirguc-Kunt, A., Klapper, L., Singer, D., & Ansar, S. (2018). The Global Findex Database 2017: Measuring financial inclusion and the fintech revolution. World Bank Publications.
Huang, M. H., & Rust, R. T. (2018). Artificial intelligence in service. Journal of service research, 21(2), 155-172.
Radziwill, N. (2018). Blockchain revolution: How the technology behind Bitcoin is changing money, business, and the world. The Quality Management Journal, 25(1), 64-65.
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